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A proporcionalidade inversa da nossa relação


Hoje passamos a manhã às voltas com a matemática.

Os dois, eu e ele, numa explosão de sentimentos à volta de funções, tão inversas quanto a nossa vontade de estudar aquela disciplina.

Oscilámos entre a paciência, o desespero e a esperança.

Era um encontro adiado.

Hoje ele pediu ajuda. Estava convicto de que não conseguia. E essa convicção transparecia-lhe nos olhos, cujas lágrimas não conseguiam disfarçar.

Eu também era assim. Era assim com a matemática. Criava muros, bloqueios.

Pergunto-me, tantas vezes, se não estarei a ser demasiado exigente com eles, acreditando que podem ganhar a autonomia de ler e entender cada disciplina.

Acredito que os preparará para o futuro, mas também sei que a logística não é fácil.

Estamos a viver demasiado perto para esconder os muros que cada um deles já traz na bagagem. E eu, tinha perdido a noção. Dói-me.

Não conseguimos protegê-los sempre. NÃO PODEMOS! Mas dói, e essa dor faz parte. Eu sei.

Ele nos seus 14 e eu nos meus (quase) 41. Uma capicua perfeita. Tão perfeita quanto os extremos que as nossas idades nos afastam.

Os receios dele já foram os meus. Ele não consegue ver. Eu vejo tão bem. Como os meus pais também viam. A história repete-se. Sempre.

Hoje, saltámos este muro. Não que eu perceba muito da disciplina, mas usei a arma que tenho: a linguagem.

Li e reli antes de começar. Percebi que teria de traduzir para uma linguagem mais simples (que talvez nem exista no mundo da matemática).

Tentei ensinar a clarificar antes de tentar resolver o problema, antes de desesperar.

Desculpem-me as professoras e os professores de matemática que tanto respeito, se a linguagem não é a correta, mas permitiu perceber a matéria, e os traços da testa franzida, com que me abordou, desvaneceram.

As capicuas permitem-nos ler um número de frente para trás e de trás para a frente. E estes momentos que a vida nos proporciona devem ser lidos, também, em ambas as direções.

Eu tenho de aprender a comunicar com ele. A tentativa de afastar os pais é, no fundo, um grito para confiarmos nele, pela sua autonomia.

É difícil interpretar, principalmente, quando se levanta um caos de emoções.

É difícil confiar quando as asneiras surgem com o efeito de uma bola de neve.

Não é fácil. Não é fácil para nenhum de nós.

Mas nunca ninguém disse que educar seria uma tarefa fácil!



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