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AKAI ITO


“Um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se, independentemente do tempo, lugar ou circunstância. O fio pode esticar ou emaranhar, mas nunca partirá.”

Ouvi, pela primeira vez, este provérbio há uns anos, numa série que adorava, “Touch”.

Desde então que não me sai da cabeça e, às vezes, penso nele quando que tomo decisões na vida que me levam a outros lugares e pessoas. (acreditem que já tomei umas quantas)

E desta vez não é exceção.

Começou ainda em Ovar, aquando da partida. Conhecemos o Armando e o Nobre, que se juntaram a este sonho maluco e nos acompanharam, para uma reportagem que passará na RTP. (desculpem não ter a foto mas, foi-nos roubada! História que contarei depois. Mas os momentos ficam-nos no coração e não se levam…)

A eles agradeço a paciência, a boa conversa e a simpatia… senti que estávamos na mesma frequência e que o nosso encontro não se esgotou. Tenho agora um livro que anseio ler, “1821 O Regresso do Rei”, mas que terei de esperar até voltar. 😉

Quando decidimos, em cima do joelho, ir para Rochefort (enganados, a pensar que era a terra do queijo) outras pessoas se cruzaram no nosso caminho.

A primeira, a senhora da livraria, que me mostrou o seu livro preferido e o leu com uma doçura e certeza nas palavras, tão redondamente pronunciadas em francês… quem me dera ler assim, pensei. E que momento tão bom… queria que o tempo congelasse.

Queria sentar-me com ela a trocar ideias e estórias. Queria… mas entrou uma cliente. Depois outro e ela fez sinal para que esperasse um momento. E eu pedi, a medo, para tirar uma foto. Ela deixou. Trouxe o livro comigo, com a ideia de o querer traduzir, tenho a ilusão de o semear também no peito de outras pessoas.

Depois conhecemos o Rider e a Chantal.

Ele, português, e ela francesa. Ele contou como foi para França há 50 anos. Contou-nos porque se chama Rider. Falou das filhas. Corrigiu a mulher no português e trocaram palavras brincalhonas. Procurámos imagens de vacas Barrosãs.

Rider e Chantal eram os nossos vizinhos da frente. Agora seguem a nossa aventura. Prometemos encontrar-nos em breve, quando eles voltarem a Cantanhede.

A foto da despedida, e seguimos caminho.

No estacionamento do Futuroscope, Eduardo respondeu em Português assim que ouviu o Ricardo falar. Mais uns largos minutos à conversa sobre Poitiers, Almada e Luanda, sobre a noiva com quem casará e as viagens que sonham um dia fazer, sobre a viagem na autocaravana, sobre o funge e o feijão de óleo de palma que ambos temos saudades de comer.

Em Paris tinha encontro marcado com Esmeraldo Lamarão, sobre um trabalho que estamos a fazer no âmbito do projeto “Sabão Potassa, histórias d’Alma Lavada”. E que fim de tarde tão boa. O Esmeraldo é daquelas pessoas que, bastando dois dedos de conversa, se sente familiar.

Depois do trabalho, da entrevista que nos levou àquele encontro, bebemos um Chocolat Chaud na place St-Michel.

- Estive aqui, neste preciso lugar, em maio de 68. – disse-nos o Esmeraldo.

- Uau! Viu? – perguntei eu.

- Fiz parte!! – respondeu logo.

E tratou de explicar aos miúdos (ao Lee, principalmente, que se manteve atento até ao fim) o que fora o “maio de 68”:

- De início, era uma revolução iniciada por estudantes descontentes com a reforma educacional e dispostos a manifestarem o seu desagrado por outras coisas, como pela guerra do Vietname. Depois, estendeu-se para uma greve de trabalhadores que balançou o governo do então presidente da França, Charles De Gaulle. Este movimento motivou outros pela europa fora… - e continuou com os olhos saudosistas e orgulhosos.

- Hoje, este tipo de manifestações fazem-se pelo bem-estar do planeta, não é mãe? –acrescentou o Lee, ávido de participar também em movimentos que possam marcar a diferença no mundo.

Na despedida prometemos manter contacto. Também um encontro, ou por Ovar ou pela Normandia, “o lugar onde o céu é diferente”, como nos descrevera Esmeraldo.

O nosso novelo desenrolou-se mais um pouco. No fundo está sempre a desenrolar-se, nós é que nem sempre estamos despertos para reparar.

O fio de um novelo invisível que “conecta os que estão destinados a conhecer-se, independentemente do tempo, lugar ou circunstância. O fio pode esticar ou emaranhar, mas nunca partirá.”



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